Ciúmes e vingança podem ter motivado o atentado que tirou a vida de um menino de 7 anos

Um caso de envenenamento chocou o Maranhão nesta semana e levantou questões sobre violência premeditada, ciúmes e identidade digital. Jordélia Pereira Barbosa, de 35 anos, foi presa nesta quinta-feira (18), suspeita de ter enviado um ovo de Páscoa envenenado para a casa de uma família em Imperatriz (MA). O doce, que parecia ser um presente inocente, causou a morte do pequeno Luís Fernando Rocha Silva, de 7 anos, e deixou a mãe dele, Mirian Lira, de 32 anos, e a irmã, Evelyn Fernanda, de 13, em estado grave.
O enredo trágico por trás do presente fatal
O crime, segundo a Polícia Civil, teria sido motivado por vingança. Jordélia é ex-esposa do atual companheiro de Mirian Lira, a quem teria como alvo principal. De acordo com o secretário de Segurança Pública do Maranhão, Maurício Martins, há "fortes indícios de que o crime foi arquitetado por ciúmes e de forma premeditada".
Em depoimento à Delegacia Regional de Santa Inês, Jordélia confirmou que comprou o ovo de chocolate, mas negou o envenenamento. No entanto, câmeras de segurança, bilhetes falsos, perucas e restos de chocolate encontrados em sua posse reforçam a tese da polícia de que ela é a autora do crime.
Viagem planejada e disfarce meticuloso
As investigações revelam detalhes dignos de um roteiro policial. Jordélia percorreu mais de 380 km entre Santa Inês e Imperatriz, em um ônibus interestadual, durante a madrugada de quarta-feira (16). Hospedou-se em um hotel utilizando um nome falso, Gabrielle Barcelli, e apresentou crachás adulterados e uma história fictícia para justificar a ausência de documentos, alegando estar em processo de transição de gênero.
Ainda em Imperatriz, ela realizou uma suposta ação de degustação de trufas perto do local de trabalho da vítima, Mirian. À tarde, comprou o ovo de Páscoa em uma loja da cidade — as imagens da câmera de segurança do local mostram Jordélia usando óculos escuros e uma peruca preta para disfarçar a identidade.
À noite, o presente foi entregue na casa de Mirian por um motoboy, acompanhado de um bilhete que dizia: "Com amor, para Mirian Lira. Feliz Páscoa". Minutos depois, uma ligação misteriosa foi feita para a casa da vítima, confirmando o recebimento do chocolate.
O desfecho trágico
Luís Fernando foi o primeiro a consumir o ovo de Páscoa e, horas depois, começou a passar mal. A mãe e a irmã também ingeriram o chocolate e apresentaram os mesmos sintomas logo em seguida. O menino chegou a ser socorrido e entubado, mas não resistiu. Mirian e Evelyn permanecem internadas em estado grave no Hospital Municipal de Imperatriz.
A suspeita foi presa ao retornar para Santa Inês, ainda na manhã de quinta-feira. Ela carregava consigo duas perucas, restos de chocolate e um bilhete de ônibus — elementos que agora compõem o inquérito policial.
Imagem pública x realidade
A prisão de Jordélia causou espanto entre vizinhos e colegas de trabalho. Esteticista reconhecida na cidade de Santa Inês, ela mantinha um estúdio de beleza em casa, era instrutora de cursos profissionalizantes desde 2019 e acumulava mais de 12 mil seguidores em suas redes sociais. Lá, publicava conteúdos sobre estética facial e corporal, mensagens de motivação e fé.
“A gente via ela como uma mulher trabalhadora, sorridente”, afirmou uma vizinha. Já uma ex-colega de trabalho declarou: “Sempre foi uma pessoa difícil, mas ninguém imaginava isso”.
Próximos passos da investigação
O delegado-geral da Polícia Civil do Maranhão, Manoel Almeida, afirmou que os indícios reunidos até agora são contundentes. “Temos elementos suficientes para indicar Jordélia como autora. Agora, vamos aprofundar a investigação com laudos periciais.”
As amostras do chocolate foram encaminhadas para análise no Instituto de Criminalística. O resultado deve sair nos próximos 10 dias. A perícia também está colhendo exames de sangue das vítimas e avaliando os produtos encontrados com a suspeita.
Segundo o delegado Ederson Martins, o crime foi “altamente premeditado e executado com detalhes que evidenciam uma tentativa de disfarçar a identidade e dificultar as investigações.”
O caso segue sendo investigado como homicídio qualificado e tentativa de homicídio. Jordélia poderá responder por esses crimes de forma agravada, caso se confirme o uso de substância tóxica com intenção deliberada de matar.